segunda-feira, 26 de julho de 2010

Capítulo XIII - Confusão - Grande Bazar

As ruas de Istambul estavam congestionadas. Era o último dia do Ramadã. As mesquitas já anunciavam as orações e as praças cheias de atrações gastronômicas e culturais começavam a encher. A caravana de motocicletas ia abrindo espaço entre a multidão de carros e de pedestres e em poucos minutos chegaram ao Grande Bazar.

O Grande Bazaer de Istambul é um enorme centro comercial composto de mais de 5000 lojas e 60 ruelas. Cerca de 400 mil pessoas passam por ali todos os dias. Construído em 1461 e ampliado no século XVI pelo sultão Suleiman, o Magnífico, tornou-se o principal centro comercial de Istambul. Além das lojas, o centro guarda duas mesquitas, quatro fontes, e duas casas de banho – os hamans.

Olhando aquela imensidão de lojas e mar de pessoas, o irmão de Ibraim ficou fascinado com o que via. Absorto nos pensamentos históricos daquele mercado estar ali pulsante por mais quinhentos anos, assustou-se quando Amir lhe tocou o ombro e perguntou:

- E agora em qual barraca temos de ir?

- Barraca número três mil e alguma coisa. Deixa eu achar o papel em que anotei...

Começou a revirar os bolsos e a mochila. E foi ficando desesperado. Não lembrava onde havia anotado. Tentou refazer mentalmente os passos do que havia feito no momento em que falava com Mohamed e não conseguia se lembrar. Lembrou-se de que ao seu lado na praça enquanto falava ao telefone com Mohamed, estava o rapaz que o levou ao restaurante.

- Ali, Ali ajuda aqui por favor! Você estava sentado ao meu lado quando eu anotei um número em um papel. Quando eu estava falando ao telefone na Praça Sultanamed.

- Sim. Eu estava. – Disse Ali.

- Não consigo achar aquele papel. É muito importante. É o numero da barraca onde está Mohamed.

- Você anotou em um papel do Hamam Cagaloglu.

- Meu Deus, mas você é observador heim?! – Disse o irmão revirando os bolsos e mochilas em busca do folheto de propaganda da casa de banhos.

Ao ver que o irmão de Ibraim não encontrava o papel, Ali prontamente disse:

- Era a loja 3845. – ao dizer isso Ali sorria com um sorriso de superioridade e sabendo que estava surpreedendo o brasileiro. Os outros companheiros já conheciam Ali e seus “poderes” de memorização.

- Você me dá medo. – Disse o brasileiro virando-se para Ali. E virou para o resto dizendo: vamos. 3845. Onde é que fica isso?

- Vamos nós com ele e vocês peguem as motos e nos encontramos no restaurante mais tarde. Disse Amir a um dos motoqueiros.

O Grande Bazar de Istambul era maior do que parecia. Um emaranhado de ruas e vilas com lojas que vendiam desde especiarias e souvenirs, passando por quitutes e tapetes até chegar em móveis de luxo e jóias. E estava cheio de gente, simplesmente muito cheio, talvez pelo Ramadã, que chegava ao seu ocaso naquela noite.

Eles foram andando, às vezes correndo, às vezes caminhando bem rápido, virando aqui e acolá. Subindo escadas, descendo outras. Até chegarem em uma barraca com o número pintado 3845. Era uma loja de especiarias. Possuía potes cheios de temperos e aromas jamais vistos. Multi-coloridos, multi-odores, realmente formando uma bela composição.

Amir perguntou à vendedora sobre Mohamed e ela não sabia de nada. Disse que não havia ninguém ali alem dela. Ficaram decepcionados e um pouco desesperados. Depois de tanto trabalho e correria, não estavam na barraca correta.

Ali, o rapaz que lembrava o numero da barraca disse:

- Eu tenho certeza que era esse o numero.

Ficaram alguns minutos sem saber o que fazer. Olhando para o lado, para o corredor para as pessoas que passavam. Mulheres e homens de todos os lugares do mundo cruzavam aqueles corredores. Mohamed podia estar em qualquer uma daquelas barracas. O futuro de Ibraim e Meryem estava em jogo e ele não podia fazer mais nada. Fechou os olhos e abriu-os novamente bem devagar. A loja em frente tinha um letreiro em Neon bem discreto, mas visívelmente belo. Estava escrito JASMIM. Sem pensar andou até a loja e viu que era uma loja de perfumes. Possuía vidros belíssimos, azuis, vermelhos, amarelos, verdes, alguns cravejados com pedras outros simplesmente belos. Perguntou à vendedora se possuíam perfume de Jasmim. E ficou aliviado com a pergunta que ouviu:

- Jasmim de que lugar senhor? Possuímos diversos tipos, e os odores variam de acordo com o local de onde as flores são colhidas. Temos da Anatólia, da Grécia, da Itália, da Índia, do Líbano e da Arábia.

Sem saber ao certo o que falava ele respondeu.

- Você teria algum com jasmins do Brasil?

- Não senhor, só temos jasmins do velho mundo.

Ao falar o nome Brasil, os olhos de um outro cliente que estava na loja brilharam. Ele veio até perto do irmão de Ibraim e disse em um inglês com forte sotaque britânico.

- Eu sei onde tem. Siga-me.

O irmão de Ibraim não entendeu nada e saiu da loja, logo seus novos amigos chegaram e começaram a conversar, dizendo que deviam voltar. O rapaz que havia oferecido para leva-lo até um jasmim brasileiro voltou e disse ao ouvido do irmão de Ibraim:

- Eu sei onde seu irmão está. Segue-me.

- Mas estou com meus amigos. Eles tem de ir também.

- Venham.

Amir virou para o irmão de Ibraim e disse que podiam ir. Que sabia que estava tudo bem e era melhor do que ficar ali.

Saíram daquele corredor, entraram em outro, e mais outro. Depois de uns 10 minutos andando pelo Grande Bazar saíram em uma porta pequena, onde uma pequena van os esperava.

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