sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Capítulo III - Ramadã - Selçuk

Por volta das três horas da tarde a van chegou perto do povoado de Selçuk. A vila parecia começar um pouco mais à frente, mas o motorista parou ainda na rodovia e entrou numa pequena e curta rua de acesso, dirigiu por uns 20 metros e estacionou em frente a um pequeno hotel chamado Anatólia. O hotel ficava em um nível um pouco mais baixo do que o da estrada, e, reparando bem,havia alguns outros hotéis ao redor e algumas lojas mais à frente. A vila era aquilo. Um pouco mais adiante havia apenas uma pequena rua de comércio e restaurantes. O motorista abriu as portas da van, retirou as duas malas, indicou uma pequena escada de pedra que conduzia até a recepção do hotel. O caminho e a escada eram ladeados por um pequeno e verde jardim, que contrastava com a paisagem seca que era vista em toda a região. Na parte final, pouco antes da porta de entrada, os pequenos arbustos tornavam se maiores e tocavam-se no alto, formando uma agradável sucessão de arcos, quase um túnel. Quando passaram por ali sentiram um aroma adocicado que tomava conta do ar. Olharam com mais atenção e viram que os arbustos estavam cheios de pequenas flores brancas de um ou dois centímetros. Eram jasmins.

Ao entrarem no pequeno hotel um homem alto, magro e com uma barba bem curta e bem cuidada veio até eles, abraçou Ibraim e deu-lhe um beijo no rosto.

- Bem vindo primo! Faz anos que o esperamos aqui. É uma alegria tão grande finalmente conhecê-lo. Sou Mohamed. – Disse o rapaz em inglês com um forte sotaque turco. Ele aparentava ter uns 35 anos, e realmente parecia felicíssimo em encontrar o primo distante.

Ibraim estava um pouco desajeitado com a recepção calorosa e tentando se livrar do abraço do primo, apresentou-lhe o irmão e perguntou sobre os demais parentes.

- Estão todos bem, vocês vão encontrá-los de noite. Vou levá-los até o quarto.

O hotel tinha apenas três andares e quinze quartos. O quarto dos dois ficava logo no primeiro andar. As escadas eram de madeira e emitiam um pequeno grunhido quando pisavam nos degraus. Um longo e fino tapete bem trabalhado em vários tons de azul, bem preso à escada, faziam como que um caminho até o hall onde outro tapete em um tom de vermelho se juntava ao anterior e continuava o caminho levando ao outro andar.

O quarto era simples: duas camas, uma televisão bem pequena, e uma pequena escrivaninha. Um pequeno armário de duas portas ficava ao lado da janela. Um banheiro pequeno e bem antigo. Mohamed abriu as pesadas cortinas que fechava a janela uma fortaleza apareceu ao fundo lá em cima do morro. Ibraim correu para a janela e perguntou retoricamente, pois sabia muito bem a resposta:

- Aquela é a fortaleza do monte Ayasoluk?

Mohamed sorriu espantado que ele soubesse o nome do monte e confirmou com a cabeça.

- Vem ver! Ela foi construída já no império bizantino, por volta do ano 1500, mais ou menos no mesmo tempo em que Pedro Álvares Cabral chegava no Brasil. E é uma das coisas mais novas que vamos encontrar por aqui! – disse enquanto o irmão mais novo debruçava-se na janela para tentar ver melhor.

Virando-se para Ibraim, deu-lhe um tapinha nas costas, como se o parabenizasse e disse:

- Andou estudando heim? Ou esses detalhes também estão nas cartas da sua mãe? – disse ele para o irmão, referindo-se às cartas que Jasmim havia deixado para Ibraim.

- Tem até uma piscina! – Continuou o irmão, voltando-se para a janela e apontando para uma piscina onde algumas crianças brincavam.

- Às seis horas eu venho apanhá-los para irmos jantar lá em casa. Minha mãe e todos os outros estão loucos para conhecê-los. Em cima da mesa tem água e algumas frutas secas, sirvam-se à vontade. Vocês não vão encontrar muita comida ou bebida por aí antes do fim do dia, por isso pedi para deixarem estas garrafas d’água e estes damascos para vocês aqui no quarto. Estamos no Ramadã.

Mohamed deu mais um abraço no primo e saiu. O irmão virou-se para Ibraim com cara de quem não estava entendendo nada, abriu uma garrafa d’água, e enquanto enchia os copos disse:

- “Estamos” no Ramadã? Nós estamos? Nós quem cara-pálida?

E entregando um copo a Ibraim, ergueu o braço como quem fazia um brinde e disse:

- À Turquia!

- À Turquia, replicou Ibraim, bebendo um gole d’água como se fosse aguardente.

Enquanto Ibraim tomava um banho o irmão desfez as malas e ficou zapeando por entre os 5 canais de TV disponíveis. Parava em um canal qualquer, e como se entendesse algo do que era transmitido ficava assistindo. Cansava do canal e mudava novamente. Quando o banheiro ficou livre, ele tomou um banho também. Minutos depois foram dar uma pequena volta pela vila, pois ainda faltava mais de duas horas até o horário em que Mohamed os buscaria.

Os dois passaram pelo portal de jasmins e caminharam em direção à vila. Passaram por um posto de gasolina e já estavam no centro. Selçuk era realmente pequena. Havia apenas mais alguns hotéis, e, como em todo vilarejo, uma dezena de bares. Uma senhora enrolada em um véu passou carregando duas crianças, e outras crianças jogavam futebol na imensa e larga calçada que ficava ao lado da rodovia. A rodovia parecia cortar a cidade em duas. Em frente aos bares e restaurantes, mesas forradas com plástico grosso e brilhante e em cada mesa dois ou três homens pareciam estar simplesmente esperando o tempo passar. Não falavam nada, não bebiam, não comiam. Em todos os bares, sem exceção, pelo menos em uma mesa um grupo jogava, em silêncio. Eram sempre grupos de três ou quatro pessoas. Cada um possuía uma régua de madeira onde colocavam pequenas pecinhas numeradas.

- Olha! Eles estão jogando Rummikub em todo lugar! – Disse o irmão à Ibraim.

- Jogando o que? – Perguntou Ibraim, espantado ao ver que o irmão sabia o que era aquilo e mais espantado ainda consigo mesmo por não saber que jogo era aquele. Ibraim tinha a certeza de que sabia tudo sobre a Turquia e seu povo. Mas nunca havia visto aquele jogo.

- Rã-mi-quil-bi. Um jogo de mesa. Uma amiga minha, a Sílvia você conhece, é louca por esse jogo. Acho que ela é meio turca-carioca. Toda vez, mas toda santa vez em que marcamos algo na casa de alguém ela quer jogar. Não importa se marcamos um jantar,  se vamos ver um filme ou simplesmente conversar. Ela sempre anda com um jogo no carro e dá um jeito de fazer a gente jogá-lo. No final eu acabei até gostando do jogo, embora eu sempre perca.

-E como que se joga isso? – Perguntou Ibraim, ansioso por saber.

O irmão não acreditava no que ouvia. Pela primeira vez iria explicar algo ao irmão mais velho. Respirou fundo, colocou a mão direita no queixo como quem se pensasse profundamente e em um tom professoral começou a explicação.

Andaram um pouco e pararam em frente a uma mesa que estava em frente a uma pequena mesquita, com uma só torrezinha - um só minarete, que mostrava que a mesquita não era tão importante, pois quanto mais minaretes, mais importante a mesquita.

- Veja bem! - imitando o próprio Ibraim que usava esta expressão muitas vezes, pois sempre parecia estar ensinando algo.

- São 106 pecinhas de madeira como aquelas ali. 104 são numeradas de 1 a 13 e os números pintados em quatro cores diferentes, como se fossem os quatro naipes do baralho.

- E as outras duas? – Perguntou Ibraim, realmente interessado no jogo.

-Calma... tô explicando. – Disse o irmão lentamente, tentando aproveitar ao máximo aquele raro momento em que ensinava algo a Ibraim.

-Continua então...

-Cada jogador desce peças em seqüência numérica da mesma cor – 4, 5, 6 vermelho por exemplo, ou em números repetidos de qualquer cor – uma trinca como chamamos no baralho. As seqüências ou as trincas devem ter no mínimo três pecinhas. Para abrirem o jogo, isto é, para descerem pela primeira vez os números devem somar no mínimo 30. Se você não tem peça para descer, compra uma do monte.

-Mas isso é igual buraco! – Disse Ibraim já pensando que havia entendido todo o jogo.

-Calma  Turco! Deixa eu terminar. Uma vez que as peças estão baixadas em seqüencias na mesa, elas não mais pertencem a quem as baixou. Qualquer um pode quebrar as seqüencias, reordená-las e usar as peças desde que adicionem uma ou mais peças que estão na mão. Mas se sobrarem peças soltas na mesa ele tem de levá-las para a mão. Quem terminar primeiro com as peças que estão na régua ganha o jogo.

-E aquelas duas peças diferentes? – Ibraim perguntou com um ar de quem sabia que o irmão havia esquecido um ponto da explicação.

- Ops. Esqueci-me delas. – disse o irmão batendo a mão na cabeça.

-Elas são curingas. Podem ser usadas em qualquer lugar, substituindo qualquer peça. Mas as seqüencias que possuem curingas não podem ser quebradas. A não ser que você tenha a peça exata que o curinga substitui. Aí você pode usar o curinga em outra seqüência nova.

Ibraim chegou mais perto de uma das mesas em que jogavam e ficou olhando os movimentos que os jogadores faziam, eles mexiam as peças em uma rapidez muito grande, mas aos poucos Ibraim foi entendendo como funcionava.

O irmão pegou um binóculo e ficou olhando o morro e a fortaleza que ficava lá em cima. Pouco antes da fortaleza havia uma mesquita grande, ela era diferente das demais, tinha um minarete octogonal. Com o auxílio de um guia de bolso ele descobriu que aquela mesquita era chamada Isa Bey e fora construída por volta do ano 1300. Um pouco mais à direita, aos pés do morro,  umas ruínas bem antigas apareciam, uma placa indicava que eram os restos de uma basílica de São João.

O sol ainda forte batia no morro, nas ruínas da basílica, na mesquita e na fortaleza, pintando de dourado todas as construções e realçando o tom amarelado do monte. Ele tirou a mochila das costas, abriu-a e pegou a máquina fotográfica, deixando a mochila no chão, encostada na parede. Fez algumas fotos em vários ângulos. Estava fascinado com a diversidade cultural que havia passado por aquelas terras e pelo fato de todas as culturas ainda estarem de certa forma presentes ali. Em pouco mais de um quilômetro era possível viajar por 3000 anos de história da humanidade, passar pelo paganismo do mundo greco-romano, pelo cristianismo e mundo bizantino, pelo islamismo e o império otomano e finalmente chegar no mundo do Rummikub. Tirou mais umas fotos dos jogadores de Rummikub e de Ibraim assistindo ao jogo.

Com a mochila ainda no chão, ele abriu-a novamente, tirou uma garrafinha d’água de dentro e guardou a máquina e o binóculo e pôs a mochila nas costas novamente, segurou a garrafa com uma mão e enquanto admirava a paisagem abriu-a com a outra mão. Subitamente todos os que estavam nos bares próximos voltaram-se para ele. O barulho que antes ara apenas de carros que passavam na rodovia e do colocar e tirar das peças de Rummikub das mesas, foi totalmente sobreposto pelo burburinho de todos falando, como cochichando uns com os outros. Eles apontavam para o rapaz com a garrafa de água aberta na mão.

Como se fosse um maestro regendo uma orquestra, à medida em que ele levantava a garrafa e colocava-a na boca os outros também se levantavam e abriam a boca de espanto e indignação. Quando ele tomou o primeiro gole, um gritou lá de trás, outro gritou mais perto. Ibraim virou-se e viu que reclamavam de seu irmão. Olhou para o irmão e entendeu tudo. Gritou um “não” bem alto. Mas já era tarde. Um homem veio e segurou o braço do rapaz violentamente, fazendo com que ele derramasse a garrafa de água.

Ainda sem entender o que ocorria, ele pegou a água do chão e começou a reclamar para o cara violento que foi ficando mais bravo e empurrando-o contra a parede. Dois outros homens vieram e seguraram o irmão de Ibraim e falavam sem parar, o irmão respondia xingando em português mesmo. Um dos homens já bravo e irritado deu um tapa no rosto do rapaz. Ele revidou jogando se em cima e derramando a água toda sobre o turco brigão. E a bagunça começou. Por mais que Ibraim entrasse no meio ele não conseguia impedir os tapas e socos. Apenas conseguia receber alguns também.

Foi quando ouviram uma voz conhecida gritando algo em turco e os outros pararam. Era Mohamed. Os outros viraram-se para Mohamed e reclamaram com ele. Mohamed muito firme e com uma liderança incontestável mandava-os sair. Eles foram saindo aos poucos, um ou outro ainda tentava reclamar algo, mas Mohamed apenas repetia a mesma palavra e eles saiam. Ficaram ali somente Mohamed, Ibraim, o irmão e a garrafa d’água no chão.

Mohamed olhando o irmão de seu primo no chão, estendeu-lhe a mão e deu uma risada e disse apenas que eles precisavam entender um pouco mais sobre o Ramadã antes de saírem novamente. Mas que não precisavam se preocupar, aquilo não aconteceria mais. Ele avisaria os militares, que zelavam principalmente pela tolerância, por um estado laico e a liberdade dos indivíduos.

-Isso não acontece com freqüência aqui. É muito comum, e muito pior nos países árabes, mas aqui é proibida essa intolerância. Mas este grupo que se reunia aqui era um grupo de intolerantes religiosos. Amanhã mesmo vão ser advertidos pela polícia, isso se não forem presos por alguns dias.

Voltaram ao hotel caminhando pela beira da estrada. Ibraim ia à frente conversando com Mohamed e atrás, ainda sem entender porque tinha apanhado, ia o irmão. Mesmo todo dolorido e com alguns sangramentos deu uma risada, e não conseguia parar de rir. Ibraim virou-se e falou:

-Você tá louco? Acabou de apanhar e fica rindo?

-Eu tô rindo porque nunca apanhei na vida, nunca! Você sabe disso. Nunca briguei na escola. Nunca apanhamos em casa, é a primeira vez que isso acontece e o que é pior, eu não tenho a mínima idéia do porquê apanhei. Isso não é engraçado?

Ibraim olhou para o irmão, colocou o braço direito sobre o ombro dele, abraçando-o. Com o outro braço fingiu que dava um soco no estômago do irmão e disse:

- Seu bobo, mas tá certo. Foi engraçado. Vamos que eu lhe explico lá no hotel.

Chegaram ao hotel e Ibraim notou que todos estavam apontando para os dois e dando umas risadinhas. Subiram ao quarto e enquanto o irmão tomava um banho, Ibraim abriu sua mala de mão e tirou uma pasta de plástico de dentro dela. Dentro da pasta algumas cartas. Ibraim separou três das cartas. O irmão saiu do banho enxugando-se e viu Ibraim separando as cartas. Disse-lhe então:

- Não acredito que você trouxe as cartas da sua mãe pra cá! E se alguma coisa acontecer com elas? Eu sei o quanto elas são importantes pra você.

-Estas são apenas cópias. As originais estão em minha casa.

-Ah bom. E aí por acaso explica o porquê eu apanhei? – Disse o irmão, enquanto passava um desodorante.

Ibraim apenas sorriu e balançou a cabeça em sinal afirmativo. E, mudando o tom, sentou-se na beira da cama e começou a ler uma das cartas:

“Meu filho,

Eu já lhe contei tantas coisas sobre a Turquia que você já deve saber mais sobre o país do que a maioria dos turcos. Escrevi-lhe sobre os lugares onde nasci, vivi e visitei, sobre os aspectos culturais e sobre o povo. Mas você apenas vai entender de fato a cultura quando visitar o pais. E, principalmente se o fizer durante o mês do Ramadã.”

-Ei! Isso é o que o Mohamed falou, que a gente estava no mês do Ramadã. – Interrompeu o irmão sentando-se na cama em frente ao irmão.

Ibraim levantou os olhos para o irmão, como quem dissesse “cala e escuta”. Voltou os olhos para a carta e continuou.

“O Ramadã é o mês sagrado para os muçulmanos, e a imensa maioria da Turquia é muçulmana. O meu povo é um povo pacífico e tolerante. Na maioria das cidades e vilas a comunidade muçulmana vive sua religiosidade sem impor nada aos turistas e às minorias. Mas, quando você estiver no interior, ou em algum lugar que não conheça haja como um muçulmano. ‘Em Roma faça como os romanos’, dizem aqui no Brasil. Em qualquer outro pais muçulmano você pode ser preso por não seguir as regras da religião. Na Turquia isso não acontece, mas também isso não quer dizer que você estará sempre em segurança.”

- É, na Turquia você apenas. – Completou o irmão de Ibraim.

Ibraim sorriu e continuou a ler.

“No interior e em algumas áreas mais tradicionalistas você tem que fazer como faria se fosse em um daqueles estados teocratas. Obedecer as regras, ao menos aparentemente. E quais são as regras? Você deve estar perguntando-se.

Elas são simples, mas podem ser bem complicadas de serem cumpridas. Você que foi criado em um mundo cristão talvez demore a entender. Por enquanto lembre-se que todo bom muçulmano é chamado a fazer algumas coisas:

Crer que existe só um Deus, Alá, e que Maomé é seu profeta.

Rezar cinco vezes por dia, voltados para Meca.

Jejuar durante o mês sagrado

Peregrinar à Meca ao menos uma vez na vida.”

E esse mês sagrado é o tal do Ramadã? – Perguntou o irmão.

Sim. É o mês que recordam o recebimento do Alcorão. Que teria sido entregue à Maomé pelo Anjo Gabriel.

-E que jejum é este?

Deixando a carta de lado, Ibraim respondeu:

-O Ramadã cai cada ano em um mês anterior ao do ano passado. Durante esse mês, do nascer ao pôr do sol, os muçulmanos não colocam nada na boca, NADA, jejum completo de comida, bebida. Não fazem nada que possa parecer “ofensivo”. Nada de sexo, atividades físicas, diversões. Os mais radicais não ouvem musica nem manifestam qualquer alegria. Mas, assim que o sol se põe eles podem fazer o que quiserem e comerem de tudo.

Então eu apanhei porque bebi água durante o dia? Não acredito! Que bando de idiotas! – Falou o irmão de Ibraim, desta vez com raiva, pois ainda tinha esperanças que houvesse alguma razão plausível para a surra que levou.

Sim. Mas como você pode notar eles estavam jogando durante o dia e brigando também quebraram o jejum. Foi o que Mohamed me falou enquanto vínhamos. Mas veja essa parte da carta:

“Procure não julgá-los, eu entendo que pode parecer estranho jejuar e rezar de dia e estar livre para pecar durante a noite, mas a mente oriental muçulmana é diferente da mente ocidental cristã. E, embora aqueles princípios sejam  definidos apenas para o muçulmano, sempre vai haver aquele que quer impor sua forma de pensar e sua religião. Em geral o povo turco é um povo tolerante, e sofre pressões de todo o mundo islâmico por ser assim.

Por outro lado, a noite do Ramadã é uma festa. Não chega a ser como o Carnaval, mas religiosamente tem o mesmo sentido. Enquanto os cristãos divertem-se e regozijam-se durante os três dias que antecedem a Quaresma (período de jejum e oração para eles), os muçulmanos utilizam a noite anterior ao dia de jejum para divertirem-se e regozijarem-se.

Logo depois do pôr-do-sol as famílias e amigos se reúnem, normalmente ao redor de uma mesa, ou nos parques e nas praças e com o anúncio do fim do dia pelas autoridades nas mesquitas, todos começam a beber e comer.

Nas praças das cidades acontecem performances, shows de música e dança.

Durante toda a noite são servidos vários banquetes e, poucas horas antes do sol nascer é possível ouvir tambores em todas as cidades. São usados para acordar as pessoas que ainda dormem, para que tomem a última refeição antes do dia raiar. Depois que o sol nasce eles voltam para seu jejum.”

Sem saber que citava o que Jasmim escrevera em outra carta, ele virou para o irmão e terminando de vestir-se disse:

- Que loucos. Parecem vampiros! Vivem ao extremo durante a noite e durante o dia fingem-se de mortos. Vamos que já são seis horas. O Mohamed deve estar esperando a gente. E essa briga me deu uma fome!

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