segunda-feira, 26 de julho de 2010

Capítulo XII - Santa Sabedoria - Hagia Sofia

O irmão de Ibraim chegou ao hotel História depois de se perder por algumas horas por Istambul. Primeiro tomou o bonde no sentido contrário, mas só reparando isso quando chegou no ponto final, já no porto. Depois desceu no ponto errado, deu umas voltas por ali. E finalmente depois de perambular por algumas ruas desconhecidas e outras não tão desconhecidas assim, chegou ao hotel.

O rapaz da recepção estranhou ao vê-lo e impensadamente disse:

- Senhor Ibraim, o senhor aqui?

O irmão pensou novamente em falar que ele não era Ibraim, mas no fundo ele até que estava gostando da confusão. Não dizendo nada, apenas acenando para o recepcionista lembrou-se do bilhete que recebera de manhã assim que saíram. Havia esquecido de entregá-lo a Ibraim. E se fosse urgente? – Pensou ele. Chegou a voltar até à porta do hotel com a intenção de retornar aonde havia deixado o irmão com Meryem, mas sabia que não o encontraria mais por ali. Desistiu de regressar e foi para o quarto.

Ao abrir a porta do quarto achou estranho. O quarto não havia sido arrumado ainda, e, na verdade, parecia até mais bagunçado do que eles o haviam deixado pela manhã. Nada demasiadamente fora do lugar, mas ele conhecia o seu irmão turco e sabia que ele não teria deixado as portas dos armários abertas e muito menos documentos do congresso jogados pela escrivaninha. “É o amor” – pensou ele. “O Ibraim está totalmente alterado”.

Retirou o paletó, as calças e a camisa. Tirando o envelope do bolso do paletó deitou-se na cama bagunçada, jogando os lençóis no chão. Com o envelope em mãos pensou várias vezes antes de abri-lo.

Era um envelope apenas com o nome de Ibraim, sem remetente, sem timbre, sem nada. Estava colado de tal forma que seria necessário rasgar o envelope para abri-lo. Em um ímpeto de curiosidade e preocupação rasgou o envelope e tirou o pequeno bilhete de dentro do mesmo. Estava escrito em um cartão de visita de uma casa de banhos turcos. O texto, em inglês era curto e direto.

“Encontre-me às 13h na Hagia Sofia”

Porém o que mais assustou o irmão de Ibraim era que o bilhete estava assinado pela própria Meryam. Havia algo estranho em tudo aquilo. Meryam havia dito que não sabia onde eles estavam hospedados. Como teria escrito o bilhete?

Por outro lado ele sentiu-se aliviado, pois Ibraim já havia encontrado-se com Meryem e o bilhete era inútil agora.

Uma meia hora depois foi acordado por alguém batendo à porta. Notou que a pessoa estava abrindo a porta e assustado ele gritou perguntando quem era. A criada que havia vindo para arrumar o quarto assustou-se mais ainda e gritou mais alto. Em alguns segundos havia mais três serviçais na porta tentando acalmá-la. O irmão de Ibraim colocou uma roupa, pediu desculpas e disse que iria sair. Um dos serviçais aparentemente falava bem inglês e ele aproveitou para perguntar onde ficava aquela tal da Hagia Sofia que estava no bilhete, e não ficou surpreso ao saber que era ali mesmo, um ou dois quarteirões acima. Na própria praça Sultanamed.

Deixando os serviçais arrumando o quarto caminhou até a praça Sultanamed e, conforme o camareiro havia dito de um lado havia uma grande mesquita com seis minaretes – a mesquita azul – e do outro uma outra, meio rosada, com quatro minaretes.

A mesquita azul não era azul como era de se esperar, era imponente e movimentada. Mas a outra mesquita que ficava do outro lado da praça era indubitavelmente a mais bela. Era possível notar que era bem mais antiga também. Suas paredes rosadas davam um tom leve e combinavam perfeitamente com as cúpulas azuladas. Também as ponteiras dos minaretes eram azulados. Mas o que realmente destacava-se era a imensa cúpula principal. Era uma das maiores cúpulas de toda arquitetura antiga. Aquela era com certeza a Hagia Sofia.

Ele sentou-se em um banco da praça que ficava entre as duas atrações e ficou observando a Hagia Sofia, cada detalhe, cada janela e cada cúpula.

Ao ver um grupo de turistas americanos descendo de um ônibus conversou com o guia turístico e juntou-se a eles.

Descobriu então que aquele antigo templo era originalmente a Igreja da Santa Sabedoria – ele sabia que Sofia era Sabedoria em grego, mas não havia feito associação alguma. Era uma das igrejas mais imponentes da antiga Constantinopla. De uma beleza arquitetônica insuperável, sua cúpula era um dos ícones mais belos da arquitetura mundial e era reconhecido no mundo inteiro. Havia funcionado como templo cristão por vários séculos até ser convertido em mesquita depois que os otomanos tomaram Constantinopla. Depois que Ataturk assumiu o poder na Turquia foi restaurada e convertida em museu, pois já havia uma outra mesquita muito mais popular para o culto muçulmano logo em frente.

Tudo era belo ali e ele estava tão entretido que esqueceu completamente do tempo. Saiu apenas quando o horário de visita estava encerrado. Sequer lembrava-se do bilhete que seu irmão havia recebido. Ao sair da Hagia Sofia passava das 2 da tarde. Um homem de barba, veste branca e com um sotaque turco muito forte veio até ele.

- Siga-me senhor Ibraim. Sem olhar para trás. Apenas siga-me.

O homem atravessou a praça Sultanamed e passou pelos portões da Mesquita Azul. Contornaram a mesquita e uma grande fila de homens aguardava sua vez junto a uma parede com várias torneiras e banquinhos. Eles sentavam-se nos banquinhos em frente às torneiras, lavavam os pés, as mãos, o rosto – várias vezes. Era o ritual da Ablução que Ibraim havia lhe contado no avião.

Depois da ablução eles entravam na mesquita sem os sapatos e homens e mulheres iam para lugares diferentes.

Entraram na gigantesca mesquita. O que impressionou mais o irmão foi o carpete e os tapetes limpíssimos mesmo com tanta gente pisando o tempo todo. A ablução devia ajudar nisso. A mesquita azul não era muito azul. Alguns azulejos no alto tinham um tom azulado, mas nada muito forte, nada de um azul-turquesa que ele esperava ver na Turquia. Mesmo sem ser muito azul a arquitetura era bela e aquela era a última das mesquitas do período clássico da arquitetura otomana. E era enorme. O exterior da mesquita impressionava mais que o seu interior.

Mesmo sem ser muito impressionante ela era composta de mais de 20000 azulejos confeccionados na cidade de Nicéia. A decoração era composta de alguns versos do Alcorão. Uma vez que no Islam é proibida a reprodução iconográfica de qualquer ser vivo, a Caligrafia tornou-se a arte mais apreciada e mais difundida no mundo muçulmano.

O homem que guiava o caminho passou pelas duas entradas e prosseguiu, sem tirar os sapatos. Conversou com um guarda e o mesmo abriu uma terceira porta, por onde entraram os dois. Continuaram por corredores estranhos e que pareciam super-reservados, subiram escadas, desceram outras e chegaram em um salão onde havia outros dois homens vestidos também com o mesmo traje e nos seus rostos, barbas parecidas.

- Senhor Ibraim. Pensei que não viesse. Mas fico grato pela consideração em ter comparecido.

Ele pensou por um instante em falar que não era Ibraim, mas achou melhor calar-se e tentar entender o que se passava.

- Nós estamos aqui em nome do Sultão Alikabar. Ele sabe que o senhor andou vendo a esposa dele em Éfeso, e que provavelmente possui planos de vê-la novamente. Uma vez que atendeu o bilhete que supostamente ela lhe escreveu, pedindo que viesse aqui, ou melhor, na Hagia Sofia.

- Enfim, o Sultão pede que não torne a vê-la. Nunca mais. – disse o homem enfatizando o “pede”, como quem dissesse “ordena”.

O homem que falava olhou para um terceiro que estava vestido de forma mais imponente e continuou:

- O Sultão é muito ciumento com suas posses e um grande provedor dessa mesquita. Vocês deveriam receber 100 chibatadas pelas nossas leis, mas somos tolerantes aqui.

- “Os adúlteros serão punidos com 100 chibatadas. Não tenhais pena dos que desobedecem a Lei de Deus se vós realmente credes em Deus e no Último Dia. Deixai um grupo de crentes testemunhar a punição - Alcorão Sagrado, 24: 2” – citou o homem que parecia um sacerdote.

Retomando a palavra o Sacerdote disse:

- Como eu falava, somos muito tolerantes aqui, até demais penso eu. Sabemos que você tem uma palestra para ministrar no Congresso de Oncologia depois de amanhã pela manhã. Pois bem, depois de amanhã você vai ao Congresso já com sua mala e será encaminhado para o Aeroporto onde pegará o vôo para o Brasil imediatamente.

O irmão de Ibraim não entendia nada do que se passava. Virou para o sacerdote e falou:

- Do que vocês estão falando? Que esposa é essa?

O outro homem que estava à esquerda do sacerdote tirou um envelope do bolso e mostrou algumas fotos de Meryem. Em momentos diferentes e em uma cerimônia parecida com um casamento islâmico.

- Você não sabia que ela era esposa do sultão?

- Claro que não. – Disse o irmão de Ibraim sem sequer pensar. Parou um pouco e refletiu no que Ibraim diria. Tentando entender um pouco mais disse:

- E que Sultão é esse? Que história de voltar ao Brasil é essa? Só volto ao Brasil em uma semana, ainda vou visitar outros lugares. Eu conheço as leis daqui e também tenho cidadania turca.

O sacerdote levantou a voz e disse a Ibraim:

- Você não conhece nada daqui seu fedelho. Sua mãe saiu daqui e traiu o nosso povo, você não é filho da Turquia. Você é um bastardo para nós que agora quer vir e macular nossas tradições. Vai embora depois de amanhã, logo após sua palestra. Ao sair do hotel depois de amanhã leve todos os seus pertences e bagagem. Um carro estará esperando-o no hotel, e o aguardará no congresso. Assim que terminar sua palestra o senhor será levado ao aeroporto.

- E se eu não for?

- Você se diz conhecedor de nossas leis. As 100 chibatadas são apenas o começo do que acontecerá com sua querida Meryem. E você não estará vivo para contar. Eu tive de convencer o Sultão a dar-lhe essa chance de continuar vivo. Por ele você já estaria morto.

O brasileiro achou melhor calar-se.

- Vá embora para sua terra e esqueça a Turquia. – Terminou o sacerdote.

O mesmo homem que o havia trazido até ali segurou-o pelo braço e convidou-o a segui-lo. Praticamente arrastava o irmão de Ibraim pelo labirinto de salas e escadas e deixou-o fora da mesquita. Largou-o em frente ao jardim, não sem antes dizer:

- Se eu fosse o senhor eu faria o que lhe foi pedido. O sultão é implacável com quem o desobedece.

Uma multidão saia e entrava na mesquita e o irmão quando viu estava já no meio da praça novamente. Ficou confuso, sem saber como agir.

Tentou ligar para Ibraim sem sucesso. Caminhava pela praça, indo e vindo da Hagia Sofia até a Mesquita Azul. Tentando conectar-se com o irmão a cada 10 segundos. Já não sabia o que fazer. Sabia que Ibraim estava com Meryem em algum lugar de Istambul. Ele não tinha o número do telefone de Maryem e o de Ibraim não respondia. As ameaças do Sultão pareciam sérias demais para que fossem ignoradas. Finalmente o seu telefone tocou. Era um número da Turquia.

- Alô. É o irmão do Ibraim? – Disse alguém do outro lado da linha, em inglês, mas com um forte sotaque turco.

- Sim. Quem fala? Mohamed?

Era Mohamed, o primo de Ibraim, com uma voz de alivio continuou:

- Finalmente encontro vocês. Estou muito preocupado. Seu irmão não atende minhas ligações. Vocês não deram entrada no hotel que eu reservei e fiquei preocupado.

- Mohamed, havia uma pessoa nos esperando no aeroporto de Istambul e fomos levados ao hotel sim. Estamos hospedados no Hotel História, aqui perto da praça, como é o nome? Sultanamed, algo assim.

- História? Mas eu havia colocado vocês no Golden Tulip, lá em Pêra. – Pausando um pouco e respirando fundo continuou: - Não importa. Onde está seu irmão? Ele corre perigo.

- Eu não sei onde ele está. Eu sei que ele corre perigo, acabo de ter uma “reunião” com os homens do Sultão. Parece que a Meryem é casada e o homem está muito bravo.

- A história não é bem assim. Mas vocês precisam sair do hotel. Vá até o hotel, pegue seus documentos e o que for necessário. No máximo uma mochila. Eu devo chegar a Istambul em duas horas. Encontre-me no Grande Bazar, loja 3845, às 16h30. Tente encontrar seu irmão e fale para ele não retornar ao hotel de jeito algum.

- Vou tentar. – respondeu o irmão de Ibraim, notou que estava tremendo de fome, sede e medo.

Anotou o numero da loja no primeiro papel que viu, sentou-se em um banco da praça e fechou os olhos um pouco. Respirou fundo e pausadamente, tentando as técnicas de relaxamento que conhecia. Pensava em como iria contatar seu irmão.

Sentado ao seu lado havia um rapaz vestido de branco, com vestes muçulmanas, barba rala e um chapeuzinho branco de pano. Ibraim nem havia reparado que havia alguém no banco, e ao notar sorriu como quem dissesse bom dia. O rapaz dirigiu-lhe a palavra:

- Você é inglês?

- Não. Sou brasileiro.

- Mas você estava conversando em inglês.

Visivelmente incomodado ao notar que o rapaz estava prestando atenção à sua conversa ele não respondeu. Ficou ali tentando relaxar, tentando ligar para Ibraim e pensou em casa. Ele não ia muito ao Brasil, mas em momentos de tensão só pensava em casa. Na alegria da irmã, na calma do pai. Era o que precisava naquela hora. Vendo uma banca de revistas logo em frente, caminhou até lá, comprou três cartões postais, selos e uma caneta. Voltou até o banco onde o rapaz ainda estava sentado. Olhou em volta para ver se havia algum outro lugar disponível, mas todos os bancos estavam ocupados. Sentou ali mesmo e escreveu os postais. Ao terminar o último, o telefone tocou. Era Ibraim.

- Ibraim?!?! Você está bem?

- Eu estou ótimo e você? – Disse Ibraim em um bom humor incrível.

- Eu estou desesperado tentando encontrá-lo. A sua namorada é casada você sabia? E o marido dela, um tal de Sultão sei-lá-o-que, disse que vai matá-lo se você continuar a sair com ela.

Contou a Ibraim os detalhes do bilhete, da reunião que havia tido na Mesquita Azul, da ligação de Mohamed, e vendo que Ibraim já sabia de tudo, ficou mais calmo. Ficaram de encontrarem-se todos no Grande Bazar ao final do dia.

Desligou o telefone aliviado. Terminou o último postal e separou os selos. Destacou o primeiro dos selos, que possuía justamente uma foto da Hagia Sofia. Era uma sensação estranha ver no selo aquilo que estava ali na sua frente. Elevou o selo de forma a cobrir com ele sua visão da Hagia Sofia real que estava ao seu lado, colocando-o de uma forma que a Igreja/Museu do selo encaixava-se perfeitamente na paisagem do resto da praça. Recolheu o braço, virou-o e levou-o à boca para umedecer o selo. Quando estava já prestes a tocar o selo com a língua, sentiu uma mão segurando o seu braço. Era o homem ao seu lado, que lhe disse:

- Não faça isso. É melhor não levar nada a boca em público durante o ramadã.

- Mas eu vou apenas lamber o selo.

- Provavelmente nada vai acontecer aqui em Istambul se você fizê-lo, mas você pode irritar algumas pessoas, principalmente aqui em frente à mesquita.

- E que tem gente louca neste país eu não duvido. – disse ele lembrando do episódio em que bebeu água mineral e apanhou de uma turma de fanáticos.

- Eu trabalho ali naquele restaurante, vamos lá dentro e você poderá lamber os seus selos e até comer algo se quiser. Meu nome é Ali, muito prazer.

O irmão de Ibraim estava desconfiado, ainda mais depois de ter recebido uma ameaça dos homens do sultão, mas não resistiu, pois também estava faminto. Apresentou-se ao homem e aceitou o convite, caminhando com o estranho até o restaurante chamado “Anatólia”.

O “Anatólia” estava vazio, mesas postas, garrafas de água fechada na mesa. Uns sacos brancos que pareciam ter pão dentro. Mas ninguém sentado, ninguém comendo. O rapaz abriu uma porta que dava para um jardim interno e ouviu-se um burburinho. A área nos fundos do restaurante era enorme. Um jardim com árvores, mesas e até um pequeno laguinho. Umas trinta meses postas e a maioria tomada de gente. Um ou outro parecia ser turista, mas a maioria era de gente notadamente local, quebrando o jejum do ramadã e comendo em plena luz do dia.

O irmão de Ibraim adorou a rebeldia e deu um sorriso.

O rapaz que o havia trazidos disse que muitos muçulmanos, em sua maioria jovens que haviam vivido fora do país e retornado, não seguiam a religião como a tradição mandava. Mas da forma como deve ser vivida e respeitada, dizia. E, falando dos absurdos que o fanatismo tinha trazido para os países árabes e mesmo para os turcos, eles buscavam uma nova forma de viver como turcos e muçulmanos. Em sua maioria eram jovens esclarecidos, de famílias ricas que puderam viver alguma experiência em algum outro país da Europa. E eles gostavam de conversar com estrangeiros. O irmão de Ibraim sentou-se e em poucos minutos já estava cercado de outros turcos que queriam saber dele. E queriam saber mais e mais quando souberam que era do Brasil. Perguntavam sobre política, arquiteura, arte, geografia... Alguns falavam um inglês impecável, outros eram mais difíceis de serem entendidos, mas enquanto comiam e bebiam foram conversando.

Aos poucos foram tornando-se mais íntimos e contando suas histórias de vida, suas experiências no extrangeiro e com a religião. Eram muçulmanos convictos, iam às mesquitas, e a maioria já até tinha ido à Meca. Mas questionavam algumas atitudes de alguns outros muçulmanos. Porem tinham a convicção que no fundo o povo muçulmano era um povo do bem e não aquele esteriótipo terrorista que existia.

O irmão de Ibraim sentia-se acolhido e parte do grupo, e foi contando o que estava fazendo ali na Turquia, contando a história de Jasmim e de Ibraim.

Ao contar a história de Jasmim, eles ficaram mais e mais envolvidos e queriam saber de tudo, de detalhes. O irmão de Ibraim conhecia bastante sobre a mãe do seu irmão, mas mesmo assim não resistiu em aumentar um ponto ou outro.

Um outro rapaz, Amir, um jovem prestativo disse que era de Selçuk também e era parente de Mohamed, e devia ser o mesmo, pois tinha uma tia distante que havia mudado para o Brasil e falecido lá. Amir era um típico árabe, barba rala, magro e estatura mediana. Tinha um sotaque muito forte, mas conseguia comunicar-se em inglês.

O tempo passou e como que num passe de mágica já eram 4 da tarde. Ainda tinha de ir ao hotel recolher os documentos e encontrar Mohamed no Grande Bazar. Falaram que seria impossível ele chegar no Bazar em tempo, ainda mais no último dia do Ramadã, ao cair da tarde, quando começam a vir centenas de pessoas para as praças do Centro de Istambul.

- Mas eu tenho que ir, senão o filho da puta do sultão ali-sei-lá-o-quê mata meu irmão. – disse sem pensar, em uma das poucas vezes que usava de palavrões.

Ao ouvirem o nome do Sultão, e verem que de alguma forma ele estava contra o Sultão, o irmão de Ibraim sentiu que não devia ter falado nada. As pessoas levantaram e começaram a falar ao mesmo tempo. Ele só entendia Alikabar. Foi quando Amir, segurou-o pelo braço e disse. Se você tem alguma luta contra o sultão, nós estamos do seu lado. Você vai chegar a tempo. Ele respirou aliviado.

Saíram do restaurante e na frente devia haver pelo menos umas 25 motocicletas, Amir pegou uma das motocicletas e disse pros outros: “Hotel História”. Amir e o irmão de Ibraim foram na mesma moto e os outros iam praticamente com duas pessoas por moto também. Nada de capacete, luva ou qualquer outro equipamento de segurança. Passaram pela praça Sultanamed e desviando-se da multidão desceram a rua, bem onde era a loja de tapetes em que havia causado um tumulto pela manhã. O irmão de Ibraim teve o instinto de esconder a cabeça, para não ser reconhecido. Mas logo estavam na frente do hotel. Desceram e Amir foi com ele.

Pegaram os passaportes e o dinheiro no cofre, os dois laptops e mais nada. Saíram na mesma velocidade que entraram e novamente a caravana entrou em formação, desta vez em direção ao Grande Bazar.


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